domingo, 18 de setembro de 2011

Distúrbios alimentares



Eu sei que o assunto parece não ter nada a ver com o blog, mas tem. Mas, o que alguns de vocês não sabem é que eu sou apaixonada por doenças psíquicas, tem todo um lado poético e artístico e tal. HASUHUSHASUH É sério.

A vilã da vez é a anorexia, que, particularmente, é uma das minhas doenças preferidas. É comprovado cientificamente que as pessoas (não direi mulheres porque 15% dos anoréxicos atualmente são homens) na verdade desenvolvem a doença numa tentativa inconsciente de controlar o próprio corpo. O pessoal que foi abusado, mulheres estupradas, e etc têm grandes chances de desenvolverem a doença. Para ajudar o caso, a mídia e a sociedade pregam que se você quer ser bem sucedido, feliz, bonito, você precisa entrar numa calça 36. É mais ou menos como se quanto mais magro você é, o peso que você tinha vai se transformar em felicidade ou qualquer coisa do tipo.

A primeira vez que fui numa nutricionista, eu tinha de oito pra nove anos. Não faço a mínima ideia quanto eu tinha de altura e nem quanto eu pesava, mas desde sempre eu já sempre fui alta para o pessoal da minha idade, mesmo só tendo agora 1,70. Meus gráficos de peso e altura eram sempre exorbitantemente muito mais altos do que o das crianças comuns. Nunca tive nenhuma doença relacionada ao meu peso, pelo contrário: tenho saúde mil vezes melhor do que a de muitos conhecidos magros de tudo.

Lembro perfeitamente da primeira vez que coloquei os pés naquele consultório. Estava eu, minha mãe, e minha irmã. Todas com um único objetivo: emagrecer. Naquele ano, eu tinha mudado para uma escola muito maior, mudado de casa e de cidade. Uma das primeiras experiências que eu tive na nova escola foi ser chamada de gorda, coisa que nunca tinha me acontecido antes. E era sempre a mesma menina, e as outras apoiando ela. Céus, que ódio que eu tinha! Eu queria tanto esfregar na cara daquelas (perdoem-me pelo vocabulário xulo) putinhas que eu não era nada daquilo que elas me diziam, queria tanto que elas vissem que eu era muito mais do que uma simples capa de carne (que por mais incrível que pareça, era assim que me viam). Não me lembro se esse foi um dos motivos pra eu querer emagrecer, mas provavelmente tenha sido.


A nutricionista era um amor. Simpatizei muito com ela. Minha mãe começou suas dietas malucas com seus vinte anos e já sabia de cor e salteado como era fazer dieta e conhecia todas as dietas possíveis imagináveis no mundo. Eu e minha irmã, mais leigas no assunto, pedimos pra que ela nos mostrasse algumas das dietas. A que nós escolhemos foi a dieta dos pontos, que é basicamente uma dieta de contar calorias. Na época, lembro que eu precisava perder vinte ou vinte e cinco quilos para meu IMC ficar normal. Acho que eu emagreci uns dez ou quinze, não me lembro.

Depois de uns meses, além de crescer, eu engordei tudo o que eu tinha perdido. Com uns onze anos, decidi tentar vencer de novo a guerra que eu tinha criado com a balança. Nessa época eu tinha 1,52 de altura e uns sessenta, quase setenta quilos pra contar a história. Queria perder uns vinte ou quinze quilos na época. Eu cultivava um ódio por pessoas magras que só Deus conseguiria entender. Nessa época começou meu problema pra comprar roupa. Quem disse que roupa de lojas comuns me serviam? Mas nem que a vaca miasse.

Cansei de sair de lojas quase chorando por não conseguir entrar em calça nenhuma. As blusinhas e tal até serviam, mas calças? Há, nem pensar. Até hoje, ao contrário das meninas da minha idade, odeio comprar roupas. Muito trauma. Toda vez que eu entro numa loja de roupas eu sinto aquela sensação de ser uma aberração, porque foi assim que eu me senti a vida toda. Queria esganar aquelas antas mais magras que um palito de dentes se achando gordas. Elas nunca vão saber o que é ser gorda de verdade, e pra ser sincera, não desejo isso pra ninguém.

Nessa mesma época, perdi uns cinco quilos, ganhados rapidinho depois de ter crescido treze centímetros no ano seguinte, quando cheguei mais ou menos na altura que eu tenho hoje. Se eu tivesse mantido meu peso quando eu pesava quase setenta quilos, hoje eu estaria com peso normal.


Depois, eu arrumei muita confusão com um pessoalzinho popular. Onde eu afoguei minhas mágoas? Comida. Como eu resolvi meu problema de tédio? Comida. Pra quem eu contei meus problemas? Comida. Ela nunca reclamou. Ouvia e sempre me fazia sentir melhor, mesmo sem nunca ter dito uma sílaba se quer. Era uma tentativa de fazer passar aquele vazio que eu sentia dentro de mim.

Naquele ano, acho que eu não fiz dieta nenhuma. Não via mais motivo nenhum. Pra que emagrecer? Minha vida ia continuar a mesma bosta de sempre, nem ia perder meu tempo e muito menos minha comida. Eu sabia que o problema não era a comida. Eu sabia que não adiantava eu emagrecer meu corpo se minha mente continuasse pesada. Simplesmente não tinha vontade. Não tinha vontade de nada naquela época, só de desenhar, comer e dormir. Mais nada. E era exatamente isso que eu fazia.

Eu me achava a pessoa mais feia do mundo. Uma ironia, já que eu, até então, era a pessoa com a auto-estima mais alta que eu conhecia. E talvez fosse. Todo mundo, com exceção da minha família, também me achava feia. Não via necessidade de mudar aquilo, já que eu acreditava naquilo. Não sei se eu deixava transparecer que eu estava tão mal, creio que não, mas eu perdi as contas de quantas vezes eu me tranquei no banheiro pra chorar. Tomava banho e chorava baixo pra ninguém escutar. Minha mania de banhos longos vem dessa época, e ainda hoje, quando estou deprimida, meus banhos são ainda mais longos que o normal.

Hoje em dia estou muito mais desencanada com peso do que naquela época. Devo confessar que às vezes ainda fico extremamente mal de me ver sem roupa no espelho. Mas passa. Até tenho vontade de emagrecer, de finalmente poder entrar numa loja comum, escolher qualquer calça e vê-la servir, de nunca mais ser chamada de gorda, mas sei lá... Agora eu tenho sonhos muito maiores do que esse. E digo: não culpo meninas anoréxicas por estarem assim, até entendo elas. Essa ânsia por tentar estar dentro dos padrões é terrível, corroe qualquer um.

Uma dieta, caso você pense, senhor(a) Magrinho(a), não é tão simples quanto parece. Envolve muito mais fator emocional do que físico. Envolve, na maioria das vezes, muito mais os outros do que você próprio. As pessoas não querem emagrecer pra si mesmas, pra se orgulharem de si mesmas. Elas querem emagrecer pra que os outros aceitem-as. Não é uma questão de desleixo consigo mesmo ou não. Se as pessoas estivessem preocupadas consigo mesmas, elas estariam lendo livros e não estando em academias malhando excessivamente. Elas não estão nem aí pra si mesmas. A culpa delas estarem assim, se você quiser saber, é totalmente sua por jogar na cara delas que elas são diferentes do resto.
Espalhados pelo post estão obras de artistas que usaram o tema para fazer arte. :) E o último, e meu preferido: 





Pra aumentar, só clicar. ;*

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