segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sobre Deus e coisas que eu não deveria escrever.

Deus sempre foi algo que me causou muita confusão desde muito pequena. Lembro-me como se fosse hoje da cena da minha mãe entrando comigo na missa e eu ter medo daquela imagem ensanguentada presa naquela cruz enorme. Aquele homem não parecia ser alguém que conseguiria me proteger de tudo, como as pessoas diziam.

Quando comecei a fazer catecismo as coisas só pioraram. Fazia aula com uma senhorinha muito simpática (e que eu tenho muita saudade, por sinal), uma menina um pouco mais velha que eu, e um menino da minha idade ou mais novo, não lembro. Devia ter uns dez ou onze anos quando comecei. Como já era grandinha para entrar no catecismo, essa senhorinha tirava o "atraso" dessas crianças, que, como eu, quiseram ser evangelizadas mais tarde e abria a casa para gente toda segunda-feira.

Ela era uma mulher estudada, já tinha viajado o mundo, e era uma pessoa tão boa e caridosa que era de se admirar! Talvez eu jamais conheça alguém tão generosa quanto ela. Ela dava real sentido de ser humano. Eu nunca entendia bem porque aquela mulher inteligentíssima acreditava naquilo tudo com tanta frieza, e pra ser sincera, acho que até hoje não entendo. Mas sempre que ela começava a falar sobre os mistérios daquele tal "Deus" que eu tanto ouvia, minha cabeça dava um nó. Ele era humano? Era homem ou mulher? De onde Ele surgiu? Ele tem religião certa? Por que Ele deixava tanta gente sofrer? Por que eu nunca tinha visto Ele? Por que as pessoas teimavam em pedir as coisas para Ele? Como Ele fazia milagres? Por que insistiam em falar Dele com letras maiúsculas? Como eu deveria acreditar em algo que eu não tinha certeza se existia?

Fiz minha primeira comunhão. A imagem ensanguentada continuava ali e eu continuava com medo, mas não era mais medo da imagem em si, era medo do que aquilo representava. A hóstia que antes eu tinha tanta curiosidade em experimentar tinha um gosto terrível, e eu não podia morder aquela coisa pastosa porque era o "corpo de Cristo". Mas que merda, aquilo era só uma massa de farinha com um gosto horrível! Era só eu que via isso?

Os anos se passaram e mesmo que eu continuasse com aquelas questões em mente, isso nunca influenciou minha vida de forma efetiva e direta. Acho que eu sempre evitei ao máximo pensar nisso porque sempre que eu pensava, meus neurônios davam um nó.

Conheci algumas outras religiões posteriormente, mas acho que nenhuma delas me explicou nada do que eu realmente queria saber. Pessoas que eu gostava muito morriam todo dia (mesmo estando mais vivas do que eu), as coisas davam errado, todas as coisas que me pareciam tão certas e sólidas de repente ficaram erradas e gelatinosas, e tentavam me enfiar aquele maldito Deus na cabeça. Mas que Deus é esse que estava fazendo toda aquela droga? Que Deus era esse que fazia com que eu acordasse todo dia para passar medo, medo, medo e mais medo? Que Deus era esse que fazia eu me trancar no banheiro, ligar o rádio bem alto, e chorar até quase desidratar porque de repente eu não podia mais confiar em ninguém, nem em mim mesma, e muito menos nos meus olhos? Que raio de Deus era aquele que estava fazendo tudo ficar pior, pior, pior, e só pior?

Eu não sei se eu deveria estar escrevendo sobre isso, porque, para muitas pessoas esse é um texto que toca o íntimo delas e elas se sentem ofendidas. Eu também não entendo muito bem o motivo delas talvez se sentirem ofendidas, nem se elas realmente se sentem ofendidas, ou se é só hipocrisia. Eu não sei bem porque eu me sinto mal por isso. Não sei de mais nada.

Não quero que tentem fazer uma lavagem cerebral religiosa em mim. Não venha me encher o saco no msn dizendo que eu estou com encostos, ou com o demônio no corpo, ou qualquer coisa assim. Eu não tô com nada disso. Só tô meio deprimida porque tá tudo dando errado e essa questão veio a calhar justamente agora.

Eu só queria desabafar sobre isso, leitor. Agora que você já leu tudo o que eu tinha pra dizer, pode seguir sua vida. Eu vou fazer o mesmo. 

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