sábado, 14 de julho de 2012

Sobre eventos otakus, amigos virtuais, e todo o resto. - Parte I

Eu nem tinha certeza se eu ia no Anime Friends, e estava com um medo enorme de não conseguir os ingressos a tempo. O Dougs estava pagando a caravana, o hotel, e o cosplay fazia meses! Acompanhei tudo com ele, desde a montagem do cosplay ao sacrifício para conseguir o dinheiro para todo o resto. Ele estava realmente animado! 

Era quarta-feira a noite. Como de costume, entrei no MSN e vi uma mensagem dele. "Bee, tô desesperado! A caravana sai amanhã a noite e eu tenho três DVDs para terminar, e se eu não terminá-los, Anime Friends rodou". Eu, tentando manter a calma (mesmo que eu estivesse explodindo de medo de dar tudo errado), tentei acalmá-lo e disse que daria tudo certo. 

No dia seguinte, o Dougs trabalhou o dia todo. Lá pelas seis horas da tarde, o patrão dele perguntou a que horas ele deveria estar na estação. Às onze da noite. Acho melhor você correr se não quiser ficar para trás! E quando ele viu no relógio que horas eram, entrou em pânico! Voltou para casa correndo debaixo do maior temporal do século, e quando chegou, a mala ainda estava meio desfeita e faltavam pegar algumas coisas. Ele ligou para a dona da Caravana dizendo que não ia dar tempo dele chegar no Rio. Imagina! Você acha mesmo que eu vou deixar alguém para trás? Fizeram que fizeram que pegaram ele em outra estação numa cidade um pouco mais próxima do que Rio de Janeiro. 

Viajou a noite toda. Disse para me dar um toque quando chegasse, e deu. 

No dia seguinte a tarde, ele me ligou. Estou no hotel e não tem nada pra fazer! Meu 3G não pega direito, todo mundo saiu e eu fiquei aqui. Isso aqui tá um tédio... E eu estou sentado em cima da pia do banheiro. Sei lá por quanto tempo a gente conversou, talvez duas, três horas. Acho que até essa ligação eu não tinha me dado conta que eu ia conhecer meu melhor amigo no dia seguinte. Eu só lembro de mim mesma sentada no sofá da sala olhando para o reflexo de mim mesma na TV desligada começando a entrar em pânico. 

De noite, eu tentava dormir. Eu tinha dormido por duas horas e depois acordado, justamente como aconteceu hoje que estou escrevendo. Será que ele estava passando frio no hotel? Será que tinha comida o suficiente? Como ficariam nossas fotos no Facebook? Eu tinha visto ele tantas vezes em fotos e conversas com web cam, mas como ele era? Eu ia achar ele no meio daquela muvuca? Tentava dormir, mas aquela sensação de euforia misturada com ansiedade e medo simplesmente não deixavam. 

De manhã, acordei. Estava com uma tremedeira nos joelhos que eu não tinha certeza se era frio, ansiedade, ou talvez algum tique que eu tivesse desenvolvido durante a noite. No espelho eu só via meu cabelo completamente desgrenhado e o desejo que eu estava de dormir mais umas horas. Desejei em silêncio para que as horas passassem rápido até a gente se encontrar. 

Minha mãe parecia dirigir a dez quilômetros por hora e aquela música que estava tocando no rádio estava me irritando. Ia dar tempo? E se eu não achasse ele? A única coisa que me vinha na cabeça era uma frase que eu tinha visto no Tumblr de alguém: quando é pra dar certo, até os ventos sopram a favor. E aí começou a tocar Linkin Park no rádio, e eu consegui me distrair por alguns minutos. Quando chegamos em São Paulo, trânsito que não acabava mais e umas placas de uma tal "Marcha Para Jesus" nos perseguiam. Pensei, sinceramente, o que eles estavam fazendo na marcha. Gritando "Jesus, eu te amo! Obrigada por ter me salvado, mimimi!" ou o quê? E fiquei putíssima por eles terem conseguido congelar o trânsito durante vários quilômetros. 

Quando enfim chegamos, minha mãe estacionou o carro na frente da entrada de caravanas. Dei a volta naquele quarteirão imenso (juro, dava a distância de uns quatro ou cinco quarteirões normais) e entrei na fila. Analisava aquelas pessoas estranhas ao meu redor. Cosplays de tudo o que se possa imaginar, muitos japoneses (e muitos japoneses lindíssimos, por sinal), e uma quantidade de homens bonitos que me surpreendeu bastante, ainda mais por ser um evento otaku/nerd, onde você espera apenas ver pessoas com um lindo bronzeado de escritório. Naquela fila, eu pensei várias vezes "O que é que eu estou fazendo aqui?". 

Quando eu estava bem perto da bilheteria (quando eu entrei na fila deviam ter umas cem pessoas na minha frente), minha mãe me ligou. Eu vi o Dougs, acredita? Vi um cara vestido de InuYasha saindo de uma caravana e perguntei se era ele. Acredita que era? Ele tremia que nem vara verde, você precisava ver! Grande pausa para minha mãe rir loucamente da cara dele. Eu disse pra ele onde você está, e ele está indo praí. Ela terminou a frase e eu não sabia bem o que fazer. Era eu que estava tremendo que nem vara verde! Só não chorei ali mesmo porque eu fiquei com vergonha. Seria muito vexame conhecer meu melhor amigo com a cara mais zoada do que já estava. 

Comprei meu ingresso, para nossa alegria, e entrei. Aquele pátio lotado de gente e nenhum InuYasha à vista. Depois de uns quinze minutos tentando ligar para ele e só escutando cair na caixa postal, ele me manda uma mensagem. Estou num corredor do bloco B. 

Continua...

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